Significado dos Sonhos
Maitê Proença fala sobre o santo Daime
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Maitê Proença fala dâ experiência com o santo Daime
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É o início de uma noite de sexta-feira. Maitê Proença chega à Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, no Rio, exausta. “Vim direto do Projac. Estava gravando desde as 7h da manhã”, diz a atriz, que está fazendo uma participação especial em Caminho das Índias. Namorando há três meses o designer Alexandre Colombo, de 39 anos, e se aproximando dos 50, ela garante que não sofre de crise de idade. E ainda se diverte com a filha, Maria, de 18 anos, que não perde a chance de brincar com a mãe sobre a idade do novo namorado. “Quando vou sair, ela pergunta: ‘Vai para o play?’”, conta a atriz, rindo. Sempre cuidadosa com as palavras, mas sem fugir das perguntas, Maitê fala, nesta entrevista a QUEM, sobre inveja, sexo e sua experiência com o Santo Daime, chá místico-alucinógeno que ela pretende voltar a usar em algum outro momento da vida.
QUEM: Lygia Fagundes Telles a acusou de ter roubado o título do livro dela, As Meninas, para colocar na sua peça. Em texto para o jornal O Globo, intitulado “Fica brava, não, Lygia”, você explicava que tentou mudar o nome, mas não conseguiu. A Maitê de 20 anos atrás diria o quê?
MAITÊ PROENÇA: Talvez eu fosse mais bélica, mais intransigente. Porque o mais jovem não entende tanto o lado do outro. Mas acho que a Lygia é uma mulher muito elegante, não diria essas coisas para mim se não tivesse alguém do lado dela buzinando. Acho que foi isso, pegaram ela numa hora ruim.
QUEM: Depois de ter falado sobre a morte de sua mãe (assassinada pelo marido, o pai de Maitê, em 1970) no livro Uma Vida Inventada, foi mais fácil voltar a tocar no assunto da morte materna na peça As Meninas?
MP: Talvez fácil não seja a palavra. Mas tampouco foi complicado. Acho que os autores estão sempre mexendo com as coisas que eles conhecem, né?
QUEM: Você fica imaginando a reação dos leitores ou da plateia diante das coisas que escreve?
MP: Nunca penso no público quando estou escrevendo. Não gosto de programar. Parece que, se eu programar, fico amarrada naquela proposta. E nunca gostei de me amarrar. Quando morei fora, quando era adolescente, não sabia o que iria fazer no dia seguinte. Tenho um problema quase infantil com isso. Não gostava de ter coisas. Só consegui ter uma casa porque me casei com um homem (o empresário Paulo Marinho) que precisava de uma casa. Mas a casa me era algo quase constrangedor, porque significa ter que ter coisas, me enraizar num lugar.
QUEM: Você não gosta de criar raízes?
MP: Não gostava. Depois descobri que casa é uma coisa maravilhosa. Sou uma pessoa contraditória! Eu não gosto, mas, uma vez que tive e foi bom... O Paulo era uma pessoa muito organizada, tudo no horário, comida na mesa, com jarro de flores, tudo limpo e bonito. Para mim, aquilo era uma tolice. Mas, uma vez que tive, descobri que era maravilhoso.
QUEM: Em As Meninas, a personagem que representa você acaba de perder a mãe e é consolada por uma amiga chamada Luzia. Ela existiu mesmo?
MP: Não, a Luzia é uma criação total. Ela é o contraponto, absolutamente necessário, porque fala o que não pode ser dito. Ela tem inveja da dor da outra, que está sendo a protagonista de um grande momento (o velório da mãe).
QUEM: A inveja sempre esteve presente na sua vida?
MP: Eu não tinha noção disso antigamente. Fui detectar muito tardiamente que determinadas coisas vinham daí. Detectei de tanto falarem. Não me ocorria. Porque (sentir inveja dos outros) não era algo que eu reconhecesse em mim. Quando criança, eu estudava numa escola americana, que é supercompetitiva nos esportes. E eu tinha uma melhor amiga que corria mais do que eu. Era um pouquinho melhor. E eu ficava puta. Não sabia que aquilo era inveja. Depois, isso desapareceu de mim, não tinha tempo para ter inveja de nada, estava tão enrolada... Aí, fui viajar pelo mundo, fiquei deslumbrada com tudo, com o outro, saí do umbigo, fui para fora, e ir para fora (de si mesmo) é muito interessante.
QUEM: Quando você percebeu que tinha inveja das pessoas? Já era adulta?
MP: Quando saquei meus primeiros lampejos, eles foram relacionados a pessoas da minha área de trabalho. Uma vez falei: “Nossa, mas aquela pessoa é mais legal do que eu. Hum, que chato, ela é mais articulada, sabe falar melhor. Depois, quando entra em cena, brilha mais”. E pior que era isso mesmo. Não gostei, lógico. Quando detectei que era inveja, fiquei com tanta vergonha que telefonei para essa pessoa, acredita?
QUEM: Quem era?
MP: Não vou falar! É uma pessoa que está aí (no ar). Ela ficou muito assustada. Eu era tão tonta que liguei para falar que estava sentindo um negócio, que era uma admiração ruim. A pessoa não entendeu nada, né? Porque sentir inveja é bom, é um motor para você melhorar. É normal, todo mundo sente. Mas, no início, quando senti, achei estranho. Porque machucava. Era ruim. Aí, descobri que é melhor não falar, é melhor resolver sozinha, não é preciso agir em cima daquilo.
QUEM: Mas você também é invejada.
MP: É, mas vou fazer o quê? Dane-se. Eu só posso mexer no meu lado.
QUEM: Você disse que já foi no fundo do poço e voltou. Como foi isso?
MP: Não sou depressiva, nem gosto de ficar chafurdando no fundo do poço. Mas já teve situações em que fiquei muito entristecida e foi difícil de sair, só que há um esforço a ser feito. E não é não indo ao fundo do poço, ficar fingindo... Tem que ir lá, mexer no negócio. Viu tudo como é? Mergulhou naquele lugar sombrio de cabeça? Agora sai!
QUEM: Isso foi em que momento?
MP: Ah, não vou contar. Já estive muitas vezes nesse lugar. Mas saí bem rápido. E também sei que a gente não morre disso. Todo mundo aguenta.
QUEM: Em Caminho das Índias, você faz uma mulher frágil que é vítima de um golpe dos vilões da história. Já foi enganada?
MP: Já passei por tudo, situações de ter sido ludibriada, de ter me decepcionado com pessoas. E esse tipo de coisa acontecer com uma amiga é muito pior do que com um namorado ou um grande amor. Ter perdido uma grande amiga é uma coisa que até hoje me deixa magoada quando lembro. Fico triste, meio sem entender e achando que talvez pudesse ter feito alguma coisa diferente...
QUEM: Você completa 50 anos em janeiro. Já teve crise de idade?
MP: Não creio que o peso aconteça numa determinada idade. As pessoas é que começam a se relacionar com você diferentemente do que até um tempo atrás. O declínio do corpo é inevitável, não há muito o que fazer. A não ser que se fique quatro horas fazendo ginástica todo dia. E eu quero que a vaidade tenha a ver com saúde. Não tenho mais tempo para ficar com a minha cabeça na bunda. Não dá!
QUEM: A Maria, sua filha, já disse que aprova seu namoro com o Alexandre Colombo. Como é a relação de vocês?
MP: Na estreia da peça, vieram perguntar o que ela achava da diferença de idade entre mim e ele (Maitê é dez anos mais velha). E ela mandou: “Olha, acho isso um preconceito tolo e é lamentável que nos dias de hoje vocês estejam preocupados com isso”. E saiu, deixando a mulher falando sozinha. Alguém ouviu e me contou. Fiquei superorgulhosa.
Pesa. Mas lá em casa ela faz todas as brincadeiras para o outro lado. Quando vou sair, ela diz: “Vai para o play?” Às vezes, o Paulo me liga dizendo que a Maria vai dormir na casa dele, e eu digo que não, porque ele tem outros filhos para ficar com ele, e eu só tenho a Maria para ficar comigo. Mas agora ela fala: “Você não tem que reclamar mais com o papai que você só tem uma filha, porque agora nós somos dois”. Ela brinca, mas é completamente no amor. Eu digo para ela parar, mas ela diz que é irresistível (risos). É só para brincar, porque eles (Maria e Alexandre) se adoram.
QUEM: Em seu livro, você afirma que sexo não é fundamental, é apenas delicioso. Ainda acha isso?
MP: As pessoas supervalorizam o sexo. No Brasil, é bonito falar que se é completamente erotizado, que isso tem a ver com juventude, é uma qualidade. Os homens adoram falar que só pensam nisso, e as mulheres, que estão disponíveis sempre, com tesão o dia inteiro. Eu não acho. Tem horas em que se está menos ou mais interessada.
QUEM: Em fevereiro, você foi fotografada beijando o escritor Miguel Sousa Tavares. Vocês namoraram?
MP: O Miguel prefaciou meu livro em Portugal, é meu amigo e, todas as vezes que vem ao Brasil, saio com ele. Aquela vez, por acaso, tinha um fotógrafo ali, e na foto estou até com as mãos para trás, dando um selinho. Viram isso e deduziram uma série de coisas. E, naquela época, ele estava separado havia três meses. A mulher dele morava no Porto e ele, em Lisboa. Deduziu-se o que se quis. Eu não vou deixar de sair com o Miguel por causa disso. Ele já veio ao Brasil depois, estivemos juntos, mas, graças a Deus, não tinha paparazzi para ver.
QUEM: No seu livro, você contou como usou e deixou de usar drogas como maconha e cocaína. Mas destaca como especial a experiência com o chá do Santo Daime. Ainda usa?
MP: Agora faz tempo que eu não tomo, mas tomarei ainda ao longo da vida. Eu tomei durante três anos, fiz por paixão, era a coisa mais importante da minha vida, tinha o Daime de companhia, fiz como autoconhecimento, tirando muitas cascas, muitos mecanismos que a gente tem e acha que é necessário para uso social. Foi um processo demorado e dolorido. As pessoas não continuam no Daime porque aquilo não é divertido, é terrivelmente difícil. Tem que ter muita coragem. E, quando você tem muita coragem, tem momentos de luz que compensam todo o sofrimento. Mas é uma pedreira.
QUEM: Mesmo assim, quer voltar a usar?
MP: Provavelmente irei de novo. Porque o esclarecimento que ele traz eu nunca consegui em lugar nenhum, muito menos na análise, que, para mim, virou uma conversa de botequim diante do Daime. Eu estava fazendo análise e parei. Falei: “Nossa, isso aqui é tão raso, rasíssimo”. Quinze anos depois, agora, a minha analista me ligou chamando para falar sobre o meu livro, e me deu uma sessão dupla. Quando saí de lá, ela disse: “Se você tivesse vindo para saber se precisava de análise, eu te diria que não”. E eu tinha saído de lá no meio do processo. Então, o Daime deve ter feito alguma coisa por mim. E a vida também.
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